terça-feira, 30 de agosto de 2005

Senti uma necessidade urgente de escrever sobre algo, senti vontade de preencher estes minutos com palavras, a falar sobre qualquer coisa. A falar do tudo ou do nada. Mas... ponho-me a pensar em assuntos e não me surge nada na mente, nada de especial, sobre a qual eu possa falar, escrever, no fundo... disparatar. Estou aqui fechada em quatro paredes, mergulhada numa música que estou sempre a ouvir, entregue a mim mesma, aos meus próprios pensamentos. Acho que já me decidi. Vou falar do meu pai.
É isso mesmo.
A minha relação com o meu pai, não é das mais fáceis. Existe, muitas vezes, um grande abismo entre ambos, um vazio doloroso. Estou muito magoada com ele e sei que ele também o está comigo. Eu tenho as minhas razões e ele tem as dele. Não vou conseguir esquecer nunca as nossas discussões, as nossas divergências, a nossa distância (não é fisica mas sim psicológica), não vou esquecer os momentos tristes, as palavras feridas, os gestos magoados, as atitudes ridiculas... não posso esquecer todas as lágrimas que me fazem sofrer por ele.
Mas nem tudo, entre mim e ele é mau. Se o achasse, estaria a ser injusta com o amor que sentimos um pelo o outro. Porque somos pai e filha. Temos um laço de sangue, até mais que isso, que nos une. Existem momentos risonhos que fazem parte da nossa história juntos, desde que me lembro de ser alguém.
Recordo alguns desses momentos.
Houve um dia, em que estava sentada no sofá mergulhada na televisão, sem saber realmente o que estava a ver... quando ele passa por mim e me faz um carinho no cabelo. Recordo a sensação dentro do meu corpo, a alegria que me invadiu por sentir um carinho do meu pai. Aquele homem sempre tão frio e tão distante de mim. Sorri, lembro-me. E claro, deu-me vontade de saltar para cima dele num abraço apertado.
Mais um momento risonho... estava eu na conversa, sem lógica nenhuma (também não era para ter, era uma conversa simplesmente descontraida) com a minha mãe, e olhei para o meu pai. Cheguei-me a ele e pedi-lhe para lhe dar um beijo, convencida que ia receber um não como resposta, quando de repente ele dá-me a face para eu a esmagar com um beijo.
São pequenos momentos como este que quero guardar para sempre comigo. São fundamentais para mim, para eu poder continuar a acreditar que não perdi o meu pai e que posso salvá-lo. Talvez eu um dia consiga.
Há bocado, eu estava no meu quarto, quando ouvi a voz do meu pai a chamar o meu nome. Que queria ele? Chego à sala e estava a dar na televisão uma entrevista do Simão Sabrosa (um homem que me dá prazer de ver, que gosto), ele fez sinal com a cabeça como quem me diz "olha o teu idolo". Não está aqui em questão, o facto de eu poder ver o Simão a falar como gosto, mas sim o facto de o meu pai me ter chamado porque sabia que eu ia ficar alegre com aquele momento. Além disso o Simão Sabrosa não é assim tão importante para mim. É sim, importante, saber que o meu pai gosta-me de ver feliz. Tal e qual como eu gosto de o ver a ele...
Existem sim, muitos momentos maus entre nós os dois. Mas até nestes últimos tempos temos conseguido superar isso, e estou muito contente por isso.
Nada é perfeito, muito menos eu ou o meu pai, mas temos saber que viver com isso. E acho que eu e ele nos temos esforçado muito para salvar e preservar da melhor maneira a nossa relação.
Depois da tempestade vem a bonança.

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